quarta-feira, 20 de abril de 2011

Grés - O que é isso?

O grés é a massa cerâmica que eu escolhi para ser o suporte do meu trabalho. É uma massa refinada que se auto vitrifica e é de origem oriental, assim como a porcelana. A sua queima pode ser de média e alta temperatura, que dá uma qualidade superior à massa cerâmica. Esta massa tem um componente (fundente) muito importante que é o feldspato
No estado do Rio Grande do Norte temos basicamente dois tipos de argila: as montmorilonitas e o caulim. As montmorilonitas tem a queima vermelha ou creme e são encontradas em todo o estado. Elas são usadas para fabricar telhas e tijolos. Há uma especial que é de queima branca e que era usada na fabricação de porcelana (esta, é encontrada em Arês/RN). O caulim é uma argila caulinita de queima branca, de excelente qualidade, usado na fabricação de porcelana e é encontrado em Parelhas/RN (já lavado e peneirado à malhas 200 e 300), Equador/RN e até Macaíba/RN.
Quando eu fui preparar o grés precisei modificar a formulação encontrada nos livros do Chiti, pois ele trabalha com argilas caulinitas (que não são exatamente caulim), porque elas são mais estáveis na sua estrutura cristalina. As montmorilonitas são argilas muito finas, difíceis de trabalhar por possuir uma plasticidade exagerada. Seus torrões são duros e de difícil diluição e tem como característica não decantar facilmente (levam dias e até meses para decantar), enquanto que as caulinitas levam minutos.
Para verificar que tipo de argila eu estou trabalhando preciso fazer alguns procedimentos. Peso um kilo de argila seca (friso que a argila deve estar bem seca). Depois a coloco numa bacia com água (importante destacar que a argila deve ser colocada numa bacia com muita água - conforme a primeira foto). Espero que ela dissolva totalmente, ajudando com a mão (conforme a segunda foto) até que todos os grumos sejam dissolvidos. Depois de bem dissolvida, começo a peneira-la para a retirada de toda a areia (fotos 3,4,5,6,7 e 8) até que sobre apenas o silte (fotos 9,10 e 11), que também deverá ser retirado. É claro que, no processo, precisa ser usada muita água  para que tudo fique homogêneo. Toda a impureza retirada deverá ser reservada num jornal (foto 12) para ser pesada novamente, para que não haja erros na formulação da massa cerâmica.


A argila limpa que ficou, depois de seca é que entra na formulação que comento agora:
Como modifiquei a fórmula? Mudei a percentagem referente à quantidade de argila em relação ao caulim e à adição de fedspato e quartzo. Então de uma formulação de 70% de argila pura e lavada + 30% de antiplásticos* mudei para de 30 a 40% de argila pura e lavada + 40% de caulim + 20% de antiplásticos*. Cabe dizer que eu uso um feldspato de sódio também encontrado beneficiado à malha 200 em Parelhas/RN. Com essas modificações foi possível conseguir uma massa cerâmica de excelente qualidade (em relação à trabalhabilidade, aderência, firmeza, cor e adaptação ao clima quente de Natal) e de média temperatura (até 1150°). Este é o assunto que eu escolhi para o meu mestrado - Grés para média temperatura elaborado à partir de argilas montmorilonitas - em engenharia de materiais. Nessa pesquisa chegamos a sete massas, com sete cores diferentes obtidas com sete argilas de localidades diferentes dentro do Rio Grande do Norte.



Após descrever todo o processo da feitura das massas cerâmicas, posso mostrar o resultado delas quando modeladas.


Esse é o meu grés, e a partir de agora, conforme eu for mostrando mais as peças, vocês já sabem de que massa estou falando. 


* Atiplásticos são no caso o feldspato e o quartzo.

domingo, 10 de abril de 2011

O professor silencioso

Nesta postagem vou apresentar o meu "professor silencioso" de quem falei na minha última postagem. Em 1995, quando fazia um curso de cerâmica na UFRN, uma grande amiga minha, Natália Barbieri, me apresentou um livro chamado "El Libro del Ceramista", escrito pelo argentino Jorge Fernandez Chiti. Ela me emprestou e eu simplesmente o "devorei", pois o conteúdo era tudo aquilo que, inicialmente, eu precisava saber sobre cerâmica artística.
Daí pra frente li a maioria dos seus livros como: Diccionario de Cerámica (3 livros); Manual de Esmaltes Cerámicos (3 livros); Curso Práctico de Cerámica (4 livros); Cerámica Esotérica, dentre outros. Também li livros de outros autores mas, para mim, não se comparam com as informações dadas por Jorge Fernandez Chiti. Eis algumas capas de seus livros.


Estes livros me acompanharam em toda minha trajetória como ceramista. Suas informações são preciosas, precisas, coerentes, honestas, claras e profundas. Ouvi vários comentários negativos sobre este autor, mas nenhum o derrubou, pois, sua postura é de levar o conhecimento cerâmico ao público com a maior veracidade possível. Com a leitura destes livros aprendi a formular as minhas massas cerâmicas, adaptadas a minha realidade; aprendi a formulação de vários esmaltes cerâmicos, com os quais obtive resultados belíssimos como os reduzidos de Cobre (Vermelhos Sangue) e os alcalinos de Sódio que levei 10 anos para acertar a sua aplicação sobre o corpo cerâmico; aprendi como construir fornos cerâmicos cujas temperaturas chegam até 1300 graus e que funcionam perfeitamente à lenha ou à gás. Enfim, foram muitas leituras, orientações, aplicações, investigações e testes até chegar às minhas próprias descobertas, semelhantes ou não a tudo que havia lido e aprendido com estes livros.
A proposta de Chiti é que se conheça profundamente a matéria prima a ser trabalhada, principalmente aquela encontrada no "quintal", e a preocupação com a qualidade e pureza dos materiais que farão parte de alguma formulação.
Em 1997, tive o prazer de conhecer meu "professor silencioso". Fui à Argentina, visitei o Atelier dele e fiz um rápido curso de cerâmica, porém muito proveitoso. Esta viagem me rendeu preciosas trocas de conhecimento. 

Paciência, disciplina, humildade, perseverança, respeito e AMOR são as virtudes a serem trabalhadas, pois, com arrogância e impaciência nada dá certo. É assim que se define o fazer cerâmico.
Ao meu professor Silencioso um grande beijo no seu coração, obrigada pela sua companhia constante através de seus livros e por escrever com tanta sabedoria e amor ao próximo.


sábado, 2 de abril de 2011

Que tal uma visitinha ao Atelier Ana Antunes?

Comecei meu atelier no dia em que eu comprei o meu primeiro forno (que era elétrico) e o instalei na minha lavanderia. O espaço em que trabalhava era num alpendre construído nos fundos da minha casa. Lá era um lugar muito especial pois, além de ser meu local de trabalho era onde a família se reunia todos os sábados para um churrasco feito pelo meu amado Miguel (tempos felizes que eu nunca esquecerei). Mas, como tudo vida, as coisas mudam... eu precisei fazer um novo forno, pois ambicionava fazer peças com uma massa cerâmica mais refinada e queimá-las não só a uma temperatura mais alta, como fazer uso das atmosferas redutoras. Construí um novo espaço no meu jardim em 1999, para colocar um forno que foi construído sob minha supervisão, conforme as instruções dadas pelos livros de Jorge Fernandez Chiti (meu professor silencioso). À princípio, ele funcionou à lenha (durante 1 ano) e depois o transformei à gás (até 2007). Como este forno era maior, eu pude fazer queimas com um número maior de peças e, também, de peças maiores. Neste novo espaço dei minhas primeiras aulas de modelagem, produção de massas cerâmicas, vidrados, engobes, etc. Atualmente, este espaço continua sendo usado para produzir minhas massas cerâmicas e fazer as queimas em  novos fornos (construídos em 2008).


Com a partida inesperada do meu Miguel e devido meus filhos mais velhos terem se casado, pude dispor de um espaço maior (dentro da minha casa), onde ministro aulas para até 10 alunos, tenho um lugar só meu onde produzo minhas esculturas e vidrados.