quarta-feira, 30 de março de 2011

A porcelana nasce porcelana?


Esta foi uma pergunta feita por um grande amigo meu enquanto conversávamos sobre esta matéria nobre (a porcelana), que enfrenta o passar do tempo sem alterar sua estrutura e beleza. Esteja onde estiver, a porcelana se mantém intacta, seja enterrada, seja no fundo do mar (como exemplo, as porcelanas do Titanic encontradas muitos anos após seu naufrágio).

A porcelana nasce porcelana porque é uma massa cerâmica específica, onde três ou quatro matérias primas se misturam formando a mais refinada das massas cerâmicas conhecidas, reverenciada desde a antiguidade até os nossos dias.
Assim como a porcelana, também a terracota, a faiança (também chamada de "louça") e o grés são composições distintas preparadas para os mais variados fins. Estamos rodeados de massas cerâmicas - do computador ao celular, passando pela cozinha – os revestimentos que usamos nas paredes, louças sanitárias do banheiro, pisos, luminárias, telhas, etc.
Em minha caminha, já confeccionei massas cerâmicas de terracota, faiança, grés e porcelana. Hoje, trabalho com a massa cerâmica de grés para média temperatura (1.150°) que é preparada por mim com argilas encontradas no Rio Grande do Norte. As argilas do RN são muito boas, entretanto, precisam ser bem estudadas no tocante à sua plasticidade, trabalhabilidade, resistência e cor resultante de uma queima.
A argila, previamente escolhida, deve ser lavada para retirar todas as suas impurezas.  Após a etapa de limpeza da argila, adicionamos à ela o caulim, que é uma argila muito branca, já limpa e beneficiada na malha 200 (significa que, em seu processo de moagem ela deve passar por uma peneira bem fina - a malha 200). Também é adicionado o feldspato sódico (albita) e o quartzo (ambos à malha 200).
É claro que tudo isso fez com que eu me envolvesse com alguns sentimentos, como: o respeito à matéria prima; a disciplina para a limpeza perfeita destas argilas; a perseverança para que a composição desse certo e, quando necessário, refazê-la incansavelmente; e a humildade para modelar as peças, aceitar os seus defeitos e consertá-los com muita paciência e amor. Porque sem amor não se faz cerâmica.

 

domingo, 27 de março de 2011

Mocinha

Hoje gostaria de contar um pouquinho da história de minhas esculturas e sua evolução ao longo dos anos. Desenho desde meus quatro anos de idade e sempre gostei de retratar a figura humana. Em 1972, cursei o bacharelado em Artes Plásticas no Belas Artes em Porto Alegre/RS durante 3 anos. Conclui minha jornada acadêmica em 1988, no curso de Educação Artística da UFRN, onde descobri, através de um curso de extensão de escultura em pedra, que queria me dedicar à escultura. Entretanto, percebi que gostaria de esculpir numa matéria prima macia e modelável como a argila. Minha primeira escultura em cerâmica foi a "Mocinha", que fiz em 1992. Nesta peça foi usada uma massa cerâmica bastante rudimentar que se chama "Terracota". 

Em 1995 entrei em contato novamente com a cerâmica, através de um curso de extensão específico de cerâmica e comprei meu primeiro forno (que era elétrico).  Neste ano, também fiz a minha primeira exposição individual, onde um dos destaques foi o "Índio". Esta peça foi construida com uma massa cerâmica chamada "Faiança" e pintada com um engobe (argila líquida) vermelho encontrado nas falésias de Barreira Rocha/RN. 


A partir do ano 2000 o meu trabalho tomou um grande impulso pois construi o meu primeiro forno à gás e pude alcançar temperaturas de até 1300°. Pude então trabalhar com massas cerâmicas requintadas como o grés e a porcelana. Daí surgiram peças como o "Africano" que é um grés de 1250° e vitrificada com esmaltes crus, preparados por mim, para 1200°.

Para finalizar, dou uma pequena amostra de como está meu trabalho hoje. Esta peça foi feita em outubro de 2010 e ainda não tem nome, alguém poderia me dar alguma sugestão?


quinta-feira, 24 de março de 2011

Um mundo novo

Olá, eu sou Ana Antunes, trabalho com arte (especificamente cerâmica) e moro em Natal, no Rio Grande do Norte. Sejam bem vindos ao meu espaço na internet. Este é um mundo novo para mim, já que computadores são fantásticos, mas ainda não são meus amigos íntimos. 

O meu mundo é feito de barro, de argila, vidrados, massas, cobre... materiais que uso, manuseio para que transformem em algo que é muito mais que uma ''escultura". São a expressão de meus pensamentos, fantasias, sonhos, leituras e vivências. No papel - hoje tela do computador - podemos esconder verdades, inventar personagens, ser o que não somos e até mentir. Na cerâmica não. Nada sairá de suas mãos que não seja expressão do seu verdadeiro eu. 

Ao trabalhar com cerâmica, seja por profissão, por hobby ou por desígnio divino, o ser humano tem a oportunidade de se dedicar à algo muito diferente do que o resto do mundo pratica hoje. Em plena era do instantâneo, onde tudo é resolvido num clique, num telefonema, dedicar-se à cerâmica é desapegar-se do instantâneo. Uma peça demora dias, ou semanas (podem ser meses também) para estar completa. É uma síntese da vida, você pode passar dias dedicando-se à sua peça e ao final, ela se quebrar, mostrando à você que houve alguma falha na produção ou na queima. Aquela produção, tão mimada pelas suas mãos mostra sem meias verdades onde você foi displicente, onde não deu atenção. Como a vida, que mostra nossos erros, cedo ou tarde.

É este mundo novo que quero compartilhar com vocês todos. Mostrar como faço meu trabalho e como é o andamento de minhas aulas. De longe, de onde você estiver, poderá estar dentro do Atelier Ana Antunes e  trocar idéias, perguntar coisas e interagir comigo. Topam?