quarta-feira, 13 de julho de 2011

A professora

Quando estudava no Belas Artes em Porto Alegre/RS, ficava admirada com os meus professores que eram quase todos Artistas renomados, atuantes no mundo artístico da cidade e ministravam as aulas práticas nas oficinas de desenho livre, pintura, escultura, cerâmica, todos os tipos de gravuras, com a habilidade deles de visualizar as pequenas e grandes imperfeições nos trabalhos que estavam sendo executados pelos alunos e por eles orientados. Esta correção era feita com muita simplicidade e a sabedoria de anos de treinamento manual, cognitivo e criativo. Estes gestos tão simples eram, para mim, mágicos e me fascinavam pois os professores corrigiam com muita facilidade o detalhe que faltava para solucionar ou complementar com equilíbrio e harmonia o trabalho que eu estava executando. Esta admiração e respeito aos meus professores resultou no desejo de um dia poder ter estes "poderes" de auxiliar aqueles que seriam meus alunos no futuro, por que, na certa, eu gostaria muito de ser professora de oficinas de arte.
Hoje me sinto realizada, pois consegui o que queria, mas foram vários anos de dedicação ao trabalho artístico, no caso, o estudo do desenho tridimensional, estrutural,científico e histórico da  cerâmica artística, tudo realizado com muita disciplina e amor. Procuro olhar as obras realizadas pelos meus alunos com respeito ao trabalho executado e o ser humano que ali se encontra cheio de emoção pelo o que está conseguido produzir, assim como eu outrora, e poder auxiliar na correção,com a permissão do autor, de alguma imperfeição que possa prejudicar a estrutura do mesmo.
Ser professora para mim é olhar com respeito e expectativa para toda a pessoa que vem para aprender e ou redescobrir as suas habilidades artísticas, pois com ela, com certeza ,eu também aprenderei soluções diferentes para uma serie de questões que se apresentam constantemente no processo de construção de peças cerâmicas.Cada aluno tem maneiras distintas de modelar mesmo eu que defina o caminho e a disciplina a ser seguido pois cada uma de nós tem as suas tendencias naturais, como  por exemplo o de ser canhota (como eu) que precisei aprender a fazer todos os movimentos no sentido contrário.
 Tenho sempre que estar ciente que sou apenas uma facilitadora de conhecimentos e orientadora quanto a aprendizagem das técnicas de modelagem, assim como dos projetos artísticos de cada um  e procuro não impor a minha vontade,  preciso ter  uma eterna vigilância e domínio das minhas atitudes, pois  é constante a viagem que eu faço no trabalho do aluno quando ele está sendo feito.
A maioria dos meus alunos não são artistas plásticos mas ao mesmo tempo o são, porque a arte é um dom que pertence a todos nós, só que ela se encontra guardada, recolhida a um segundo plano, escondida dentro de nossas mentes a espera do momento em que será resgatada pelo exercício da criatividade, da evolução do amor e a coragem de se permitir imaginar mundos diferentes que se encontram dentro do nosso inconsciente e que precisam ser libertados.
Para finalizar, quero dizer que amo profundamente o que faço e me sinto realizada como artista plástica e como professora. 

obras dos alunos do atelier Ana Antunes na exposição "Conexão" realizada em dezembro de 2010

obras dos alunos do DEART/UFRN na CIENTEC 2005

domingo, 5 de junho de 2011

O fazer artístico

Hoje falarei sobre um assunto muito precioso para mim que é o fazer artístico. Acredito que este tópico mostrará a diferença entre o verdadeiro artista e o artesão.
Deixo claro que não me refiro aos artesãos, de ofício que são os guardadores do grande conhecimento do ofício de seus antepassados, assim como dos materiais por eles utilizados como o uso de metais, pedras, olaria, couro, vidro, madeira, resinas, minerais diversos usados no preparo de  diversos tipos tintas, assim como, dos conhecedores de materiais modernos com os derivados de petróleo (plásticos, acrílicos, silicones, dentro outros).
Me refiro àqueles que simplesmente fazem uma arte mediócre, vendável, repetitiva, copiada de outros artesãos sérios, sem nenhum compromisso com o fazer artístico e que se intitulam muitas vezes de artistas.
Fazer ARTE é algo muito profundo e que exige do artista um grande conhecimento das matérias primas que servirão de suporte para a obra de arte, assim como os artesãos de oficio, precisam entender e respeitar as normas dos materiais que serão usados e transformá-los com sabedoria, audácia e coragem de arriscar a experimentar. Junto a tudo isto o artista coloca a sua alma com todos os seus anseios, sua angustias, alegrias tristezas, esperanças e dores, porque é com elas que a Obra de Arte se alicerça, como as bases de uma construção sólida e harmônica. É nessa harmonia que procuro me colocar, buscando no meu interior a minha força vital e criativa.
Acredito que todos nós, seres humanos, somos um caleidoscópio de imagens, sons, cheiros, sentimentos diversos e lembranças que nos tocam profundamente. Quando treinamos os nossos sentidos e, principalmente, a nossa motricidade fina com os mais variados trabalhos manuais que fazemos no decorrer de nossas vidas, até mesmo aqueles enfadonhos como: as atividades domésticas, as atividades que aprendemos nas escolas de freiras (arte costura, bordado, croché, tricô, culinária, pinturas especiais, colagem e recortes) ou tudo quilo que a maioria das pessoas acha CHATO, nós guardamos em nosso inconsciente e todas estas manualidades ficam prontas para serem resgatadas na primeira oportunidade.
Quero dizer que tudo isto faz parte do meu dia dia e que procuro me envolver harmoniosamente e honestamente comigo mesma para produzir o meu trabalho artístico. É uma necessidade vital que me empurra constantemente para ele todos os dias, mesmo que não possa executá-lo, devido os outros afazeres domésticos, mas fica retido no meu pensamento até o momento em que voltarei para as minhas peças que literalmente me chamam para serem feitas.
A minha maior preocupação é com o FAZER Artístico, a venda vem muito depois, ela é simplesmente decorrente. Também não gosto de encomendas porque tolhem a minha criatividade, pois todo o meu trabalho é sequencial, não faço repetições, gosto de utilizar a vitrificação ou esmaltação nas peças que é um mundo vastíssimo de grande sabedoria e beleza.
Enfim, este é o meu entender do fazer Artístico, que envolve os meus dias com o trabalho constante no meu atelier que vai da feitura das massas cerâmicas e esmaltes, esmaltação das peças, queimas variadas e ministro aulas onde abordo todos estes itens.   
 Quero com este texto homenagear um grande amigo artista plástico, ceramista, pintor, escultor que sempre me honrou com a sua simplicidade e sabedoria do FAZER ARÍSTICO que é Miguel dos Santos.   

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Arte de modelar

A arte de modelar é como chamamos o desenho tridimensional realizado pelos artistas ceramistas e artezãos que fazem uso argila e outros materiais modelaveis como massas de modelar industriais, papel machê, biscuit, dentre outros. É um desenho que precisa ser trabalhado com muita paciência, persistência e treinamento constante dos processos de modelagem, assim como, o conhecimento profundo da massa cerâmica, quanto a sua trabalhabilidade, aderência, secagem, cor pós queima, temperatura de queima, etc. Enfim, a massa específica que deverá ser usada de acordo com a proposta de construção do tipo de peça cerâmica que será trabalhada e que poderá ser escultura, mural, utilitários ou objetos artísticos.
Eu sou, basicamente, uma modeladora. Todas as minhas peças são montadas a partir de placas, que é um dos processos de modelagem que mais exige da minha motricidade fina, pois, preciso ter muita firmeza e equilíbrio, assim como, uma grande delicadeza em minhas mãos para manusear corretamente as placas sem danificá-las no momento da montagem da peça.
É muito importante dizer que minhas peças nascem ocas e não maciças. Elas são montadas sem nenhum suporte de preenchimento como jornal ou sacos plásticos para a sustentação da peça. Tudo é feito com a paciência da espera dos pontos perfeitos da resistência da massa cerâmica durante a sua secagem lenta que requer um cuidado constante  do uso de panos e sacos plásticos como envoltórios para que não ultrapasse o ponto de perfeita aderência das placas durante a construção da obra.
Nas fotos a seguir mostro passo a passo a construção de uma peça a partir de um corpo central oco, a montagem das placas recortadas que farão o desenho exterior da obra, como se faz a costura e o arremate entre as placas.





Agora, mostro a sequência do recorte das faces, que são feitas com muito cuidado e precisão. Para fazer os cortes eu utilizo estiletes com lâminas muito finas e afiadas, preferencialmente, feitas de aço.





Esta obra faz parte de um grupo que chamarei de Minuano, como é chamado o vento de minha terra natal, o Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Grés - O que é isso?

O grés é a massa cerâmica que eu escolhi para ser o suporte do meu trabalho. É uma massa refinada que se auto vitrifica e é de origem oriental, assim como a porcelana. A sua queima pode ser de média e alta temperatura, que dá uma qualidade superior à massa cerâmica. Esta massa tem um componente (fundente) muito importante que é o feldspato
No estado do Rio Grande do Norte temos basicamente dois tipos de argila: as montmorilonitas e o caulim. As montmorilonitas tem a queima vermelha ou creme e são encontradas em todo o estado. Elas são usadas para fabricar telhas e tijolos. Há uma especial que é de queima branca e que era usada na fabricação de porcelana (esta, é encontrada em Arês/RN). O caulim é uma argila caulinita de queima branca, de excelente qualidade, usado na fabricação de porcelana e é encontrado em Parelhas/RN (já lavado e peneirado à malhas 200 e 300), Equador/RN e até Macaíba/RN.
Quando eu fui preparar o grés precisei modificar a formulação encontrada nos livros do Chiti, pois ele trabalha com argilas caulinitas (que não são exatamente caulim), porque elas são mais estáveis na sua estrutura cristalina. As montmorilonitas são argilas muito finas, difíceis de trabalhar por possuir uma plasticidade exagerada. Seus torrões são duros e de difícil diluição e tem como característica não decantar facilmente (levam dias e até meses para decantar), enquanto que as caulinitas levam minutos.
Para verificar que tipo de argila eu estou trabalhando preciso fazer alguns procedimentos. Peso um kilo de argila seca (friso que a argila deve estar bem seca). Depois a coloco numa bacia com água (importante destacar que a argila deve ser colocada numa bacia com muita água - conforme a primeira foto). Espero que ela dissolva totalmente, ajudando com a mão (conforme a segunda foto) até que todos os grumos sejam dissolvidos. Depois de bem dissolvida, começo a peneira-la para a retirada de toda a areia (fotos 3,4,5,6,7 e 8) até que sobre apenas o silte (fotos 9,10 e 11), que também deverá ser retirado. É claro que, no processo, precisa ser usada muita água  para que tudo fique homogêneo. Toda a impureza retirada deverá ser reservada num jornal (foto 12) para ser pesada novamente, para que não haja erros na formulação da massa cerâmica.


A argila limpa que ficou, depois de seca é que entra na formulação que comento agora:
Como modifiquei a fórmula? Mudei a percentagem referente à quantidade de argila em relação ao caulim e à adição de fedspato e quartzo. Então de uma formulação de 70% de argila pura e lavada + 30% de antiplásticos* mudei para de 30 a 40% de argila pura e lavada + 40% de caulim + 20% de antiplásticos*. Cabe dizer que eu uso um feldspato de sódio também encontrado beneficiado à malha 200 em Parelhas/RN. Com essas modificações foi possível conseguir uma massa cerâmica de excelente qualidade (em relação à trabalhabilidade, aderência, firmeza, cor e adaptação ao clima quente de Natal) e de média temperatura (até 1150°). Este é o assunto que eu escolhi para o meu mestrado - Grés para média temperatura elaborado à partir de argilas montmorilonitas - em engenharia de materiais. Nessa pesquisa chegamos a sete massas, com sete cores diferentes obtidas com sete argilas de localidades diferentes dentro do Rio Grande do Norte.



Após descrever todo o processo da feitura das massas cerâmicas, posso mostrar o resultado delas quando modeladas.


Esse é o meu grés, e a partir de agora, conforme eu for mostrando mais as peças, vocês já sabem de que massa estou falando. 


* Atiplásticos são no caso o feldspato e o quartzo.

domingo, 10 de abril de 2011

O professor silencioso

Nesta postagem vou apresentar o meu "professor silencioso" de quem falei na minha última postagem. Em 1995, quando fazia um curso de cerâmica na UFRN, uma grande amiga minha, Natália Barbieri, me apresentou um livro chamado "El Libro del Ceramista", escrito pelo argentino Jorge Fernandez Chiti. Ela me emprestou e eu simplesmente o "devorei", pois o conteúdo era tudo aquilo que, inicialmente, eu precisava saber sobre cerâmica artística.
Daí pra frente li a maioria dos seus livros como: Diccionario de Cerámica (3 livros); Manual de Esmaltes Cerámicos (3 livros); Curso Práctico de Cerámica (4 livros); Cerámica Esotérica, dentre outros. Também li livros de outros autores mas, para mim, não se comparam com as informações dadas por Jorge Fernandez Chiti. Eis algumas capas de seus livros.


Estes livros me acompanharam em toda minha trajetória como ceramista. Suas informações são preciosas, precisas, coerentes, honestas, claras e profundas. Ouvi vários comentários negativos sobre este autor, mas nenhum o derrubou, pois, sua postura é de levar o conhecimento cerâmico ao público com a maior veracidade possível. Com a leitura destes livros aprendi a formular as minhas massas cerâmicas, adaptadas a minha realidade; aprendi a formulação de vários esmaltes cerâmicos, com os quais obtive resultados belíssimos como os reduzidos de Cobre (Vermelhos Sangue) e os alcalinos de Sódio que levei 10 anos para acertar a sua aplicação sobre o corpo cerâmico; aprendi como construir fornos cerâmicos cujas temperaturas chegam até 1300 graus e que funcionam perfeitamente à lenha ou à gás. Enfim, foram muitas leituras, orientações, aplicações, investigações e testes até chegar às minhas próprias descobertas, semelhantes ou não a tudo que havia lido e aprendido com estes livros.
A proposta de Chiti é que se conheça profundamente a matéria prima a ser trabalhada, principalmente aquela encontrada no "quintal", e a preocupação com a qualidade e pureza dos materiais que farão parte de alguma formulação.
Em 1997, tive o prazer de conhecer meu "professor silencioso". Fui à Argentina, visitei o Atelier dele e fiz um rápido curso de cerâmica, porém muito proveitoso. Esta viagem me rendeu preciosas trocas de conhecimento. 

Paciência, disciplina, humildade, perseverança, respeito e AMOR são as virtudes a serem trabalhadas, pois, com arrogância e impaciência nada dá certo. É assim que se define o fazer cerâmico.
Ao meu professor Silencioso um grande beijo no seu coração, obrigada pela sua companhia constante através de seus livros e por escrever com tanta sabedoria e amor ao próximo.


sábado, 2 de abril de 2011

Que tal uma visitinha ao Atelier Ana Antunes?

Comecei meu atelier no dia em que eu comprei o meu primeiro forno (que era elétrico) e o instalei na minha lavanderia. O espaço em que trabalhava era num alpendre construído nos fundos da minha casa. Lá era um lugar muito especial pois, além de ser meu local de trabalho era onde a família se reunia todos os sábados para um churrasco feito pelo meu amado Miguel (tempos felizes que eu nunca esquecerei). Mas, como tudo vida, as coisas mudam... eu precisei fazer um novo forno, pois ambicionava fazer peças com uma massa cerâmica mais refinada e queimá-las não só a uma temperatura mais alta, como fazer uso das atmosferas redutoras. Construí um novo espaço no meu jardim em 1999, para colocar um forno que foi construído sob minha supervisão, conforme as instruções dadas pelos livros de Jorge Fernandez Chiti (meu professor silencioso). À princípio, ele funcionou à lenha (durante 1 ano) e depois o transformei à gás (até 2007). Como este forno era maior, eu pude fazer queimas com um número maior de peças e, também, de peças maiores. Neste novo espaço dei minhas primeiras aulas de modelagem, produção de massas cerâmicas, vidrados, engobes, etc. Atualmente, este espaço continua sendo usado para produzir minhas massas cerâmicas e fazer as queimas em  novos fornos (construídos em 2008).


Com a partida inesperada do meu Miguel e devido meus filhos mais velhos terem se casado, pude dispor de um espaço maior (dentro da minha casa), onde ministro aulas para até 10 alunos, tenho um lugar só meu onde produzo minhas esculturas e vidrados. 




quarta-feira, 30 de março de 2011

A porcelana nasce porcelana?


Esta foi uma pergunta feita por um grande amigo meu enquanto conversávamos sobre esta matéria nobre (a porcelana), que enfrenta o passar do tempo sem alterar sua estrutura e beleza. Esteja onde estiver, a porcelana se mantém intacta, seja enterrada, seja no fundo do mar (como exemplo, as porcelanas do Titanic encontradas muitos anos após seu naufrágio).

A porcelana nasce porcelana porque é uma massa cerâmica específica, onde três ou quatro matérias primas se misturam formando a mais refinada das massas cerâmicas conhecidas, reverenciada desde a antiguidade até os nossos dias.
Assim como a porcelana, também a terracota, a faiança (também chamada de "louça") e o grés são composições distintas preparadas para os mais variados fins. Estamos rodeados de massas cerâmicas - do computador ao celular, passando pela cozinha – os revestimentos que usamos nas paredes, louças sanitárias do banheiro, pisos, luminárias, telhas, etc.
Em minha caminha, já confeccionei massas cerâmicas de terracota, faiança, grés e porcelana. Hoje, trabalho com a massa cerâmica de grés para média temperatura (1.150°) que é preparada por mim com argilas encontradas no Rio Grande do Norte. As argilas do RN são muito boas, entretanto, precisam ser bem estudadas no tocante à sua plasticidade, trabalhabilidade, resistência e cor resultante de uma queima.
A argila, previamente escolhida, deve ser lavada para retirar todas as suas impurezas.  Após a etapa de limpeza da argila, adicionamos à ela o caulim, que é uma argila muito branca, já limpa e beneficiada na malha 200 (significa que, em seu processo de moagem ela deve passar por uma peneira bem fina - a malha 200). Também é adicionado o feldspato sódico (albita) e o quartzo (ambos à malha 200).
É claro que tudo isso fez com que eu me envolvesse com alguns sentimentos, como: o respeito à matéria prima; a disciplina para a limpeza perfeita destas argilas; a perseverança para que a composição desse certo e, quando necessário, refazê-la incansavelmente; e a humildade para modelar as peças, aceitar os seus defeitos e consertá-los com muita paciência e amor. Porque sem amor não se faz cerâmica.